Trump demite cientistas responsáveis pelo principal relatório climático dos EUA

Bombeiro combate incêndio florestal próximo ao lago Castaic, ao norte de Santa Clarita, na Califórnia – Ringo Chiu – 22.jan.25/Reuters

Documento é usado por formuladores de políticas públicas e empresas para entender como as mudanças climáticas afetam o país

The New York Timesgoverno Trump demitiu as centenas de cientistas e especialistas que estavam compilando o principal relatório do governo federal sobre como o aquecimento global está afetando o país.

A medida coloca o futuro do relatório, que é exigido pelo Congresso e conhecido como Avaliação Nacional do Clima, em sério risco, segundo especialistas.

Desde 2000, o governo federal tem publicado uma análise abrangente a cada poucos anos sobre como o aumento das temperaturas afetará a saúde humana, agricultura, pesca, abastecimento de água, transporte, produção de energia e outros aspectos da economia dos EUA.

A última avaliação climática foi publicada em 2023 e é utilizada por governos estaduais e locais, bem como por empresas privadas, para ajudar na preparação para os efeitos de ondas de calor, inundações, secas e outras calamidades relacionadas ao clima.

Na segunda-feira (28), pesquisadores de todo o país que haviam começado a trabalhar na sexta avaliação nacional do clima, planejada para o início de 2028, receberam um e-mail informando que o escopo do relatório “está sendo reavaliado atualmente” e que todos os colaboradores estavam sendo dispensados.

“Estamos agora liberando todos os participantes atuais da avaliação de suas funções”, dizia o e-mail. “À medida que os planos se desenvolvem para a avaliação, poderá haver oportunidades futuras para contribuir ou participar. Obrigado pelo seu serviço.”

Para alguns dos autores, isso pareceu ser um golpe fatal para o próximo relatório.

“Isso é o mais próximo possível de um encerramento da avaliação”, disse Jesse Keenan, professor da Universidade Tulane especializado em adaptação climática e coautor da última avaliação climática. “Se você se livra de todas as pessoas envolvidas, nada avança.”

A Casa Branca não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

A avaliação climática é tipicamente compilada por cientistas e especialistas de todo o país que se voluntariam para escrever o relatório. Em seguida, passa por várias rodadas de revisão por 14 agências federais, além de um período de comentários públicos. Todo o processo é supervisionado pelo Programa de Pesquisa de Mudanças Globais, um grupo federal estabelecido pelo Congresso em 1990 que é apoiado pela Nasa (agência espacial dos EUA).

Sob o governo Trump, esse processo já estava enfrentando sérias interrupções. Neste mês, a Nasa cancelou um importante contrato com a ICF International, uma empresa de consultoria que estava fornecendo a maior parte do suporte técnico e pessoal para o Programa de Pesquisa de Mudanças Globais, que coordena o trabalho entre centenas de colaboradores.

O presidente Donald Trump frequentemente desconsiderou os riscos do aquecimento global. E Russell Vought, diretor do Escritório de Gestão e Orçamento, escreveu antes da eleição que o próximo presidente deveria “remodelar” o Programa de Pesquisa de Mudanças Globais, porque seus relatórios científicos sobre mudanças climáticas eram frequentemente usados como base para processos ambientais que restringiam ações do governo federal.

Vought chamou a maior unidade de pesquisa climática do governo, uma divisão dentro da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (Noaa, na sigla em inglês), de fonte de “alarmismo climático.”

Durante o primeiro mandato de Trump, sua administração tentou, mas não conseguiu, descarrilar a Avaliação Nacional do Clima. Quando o relatório de 2018 foi divulgado, concluindo que o aquecimento global representava uma ameaça iminente e grave, o governo o tornou público no dia seguinte ao Dia de Ação de Graças, numa aparente tentativa de minimizar a atenção.

Em fevereiro, cientistas haviam submetido um esboço detalhado da próxima avaliação à Casa Branca para uma revisão inicial. Mas essa revisão está em espera e o período de comentários das agências foi adiado.

Resta saber o que acontecerá a seguir com a avaliação, que ainda é exigida pelo Congresso. Alguns cientistas temem que o governo possa tentar escrever um relatório totalmente novo do zero que minimize os riscos do aumento das temperaturas ou contradiga a ciência climática estabelecida.

“Pode muito bem haver uma sexta Avaliação Nacional do Clima”, disse Meade Krosby, cientista sênior do Grupo de Impactos Climáticos da Universidade de Washington e colaboradora da avaliação. “A questão é se ela vai refletir ciência crível e ser realmente útil para nossas comunidades enquanto se preparam para as mudanças climáticas.”

Cientistas envolvidos em avaliações climáticas anteriores disseram que o relatório é inestimável para entender como as mudanças climáticas afetariam a vida cotidiana nos Estados Unidos.

“Ele pega essa questão global e a aproxima de nós”, disse Katharine Hayhoe, cientista climática da Universidade Texas Tech, este mês. “Se eu me preocupo com alimentos, água, transporte, seguros ou minha saúde, isso é o que a mudança climática significa para mim se eu vivo no Sudoeste ou nas Grandes Planícies. Esse é o valor.”

Muitos formuladores de políticas estaduais e locais, bem como empresas privadas, dependem da avaliação para entender como as mudanças climáticas estão afetando diferentes regiões dos Estados Unidos e como podem tentar se adaptar.

E embora o entendimento científico das mudanças climáticas e seus efeitos não tenha mudado drasticamente desde a última avaliação em 2023, Keenan disse que houve uma progressão constante de pesquisas sobre o que as comunidades podem fazer para se preparar para o agravamento de incêndios florestais, níveis mais altos do mar e outros problemas exacerbados pelo aumento das temperaturas.

Os tomadores de decisão forçados a recorrer à última avaliação estariam confiando em informações desatualizadas sobre quais medidas de adaptação e mitigação realmente funcionam, disseram os cientistas.

“Estaríamos perdendo o relatório fundamental que deveria comunicar ao público os riscos que enfrentamos com as mudanças climáticas e como podemos seguir em frente”, disse Dustin Mulvaney, professor de estudos ambientais da Universidade Estadual de San Jose, que foi autor do capítulo regional do sudoeste. “É bastante devastador.”

Fonte: Folha de São Paulo

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